terça-feira, 6 de janeiro de 2009

César Lattes e o méson-pi

O filho de imigrantes italianos Cesare Mansueto Giulio Lattes nasceu em Curitiba, no estado do Paraná, em 11 de julho de 1924. Por intermédio do pai, conhece o russo Gleb Wataghin, que o convence a seguir carreira científica como pesquisador.

Lattes entrou para a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras no ano de 1941, concluindo seu curso em 1943, quando possui então 19 anos. Durante o último ano de seu curso trabalhou com o italiano Giuseppe Occhialini que, em 1946, convida Lattes a seguir para Bristol (uma universidade particular mantida por indústrias de cigarro), na Inglaterra, para ocupar o cargo de research associate, com uma bolsa de 15 libras mensais.

Em Bristol, ele passa a integrar a equipe dirigida por Cecil Powell, que estudava a física das partículas, campo que Lattes já trabalhava no Brasil junto a Occhialini. O brasileiro idealizou e realizou experimentações com raios cósmicos em placas fotográficas tratadas com bórax (uma sugestão de Lattes para diminuir o fading das placas normais), que o conduziram a descobrir experimentalmente nos Andes bolivianos, em 1947, o méson-pi, uma partícula que havia sido prevista por Yukawa.

A descoberta abriu uma nova era na física de detecção de partículas. Curiosamente, essa história poderia ser bem diferente, se Lattes tivesse seguido as intruções dos ingleses de voar pela British. O brasileiro preferiu voar por uma empresa nacional, a Panair. Ao chegar em seu destino, soube que o avião inglês caiu, sem deixar sobreviventes. Um dos primeiros a reconhecer a descoberta, Niels Bohr convidou Lattes a visitar a Dinamarca, onde proferiu duas palestras e conversou com o dinamarquês em sua casa.

Fotografia de rastro deixado pelo méson-pi, utilizada para sua detecção



A descoberta do méson-pi rendeu a Cecil Powell o Nobel de 1950, entretanto, o nome de César Lattes foi omitido injustamente na premiação. A partir de 1948, Lattes foi para a Universidade da Califórnia, em Berkeley, onde passou a trabalhar com a produção artificial de mésons, incluindo o méson-pi. Antes, porém, no final de 1947, Lattes visitou o Brasil e casou-se com a pernambucana Martha Siqueira Neto Lattes, com quem vem a ter quatro filhos. Lattes, de volta ao Brasil em 1949, participou da fundação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no qual assumiu o cargo de Diretor-Científico. Por coincidência, o dia da assinatura da ata de fundação coincidiu com a da fotoprodução de mésons pi.

Leitor da Bíblia, gostava de citar uma frase do Livro da Sabedoria: “a sabedoria não entra de jeito algum na alma malvada”, lamentando que o mesmo não acontece com a ciência. Premiado diversas vezes, ganhou inclusive uma homenagem de Cartola, na música “Ciência e Arte”.